quarta-feira, 5 de setembro de 2007

SCHOPPENHAUER versus OTELO

Veio a mim um amigo de infância, com olhos tristes e perdidos, contar sua angústia. Ele estava sofrendo calado e inquieto um drama que todos os homens passam, passaram ou passarão. Nunca iremos admitir publicamente (vocês já viram algum macho chorar? Eu já!), mas temos de extravazá-lo a alguém de confiança que pudesse manter segredo, sem zombar de seus sentimentos. O segredo inteiro não consegui guardar, vou contar a vocês somente o que me lembrar, caros leitores, mas usarei um codinome para designar o meu amigo, será chamado de Otelo. O problema era mulher. Agradeci a confiança depositada e, preocupado, pedi o relato da situação. A paixão (por quê não dizer o amor?) de forma arrebatadora, inesperada, surpreendente, chegou e ficou para seu desespero. Otelo nunca foi um homem de acreditar em amor ou em paixão. Gostava de mulheres, do jeito que caminhavam, do perfume, do estilo, da companhia. Sempre namorou muito. Tinha um desejo insaciável de conseguir o maior número possível de mulheres, loiras, negras, japonesas, ruivas…Conquistava-as. Apegava-se às suas manias, sabia-as de cor, adequando-as ao seu jeito, transformando-as. Mas nunca estava satisfeito com nenhuma. Otelo, em seu drama shakesperiano, talvez escrito por Sartre, era uma marionete do seu vazio desejo incontrolável. Faltava-lhe um rumo, um objetivo até surgir uma mulher, a mulher. Amou-a na primeira, na segunda e na terceira vez que a viu. Quebrou barreiras e possibilidades da lógica do amor, ela era uma deusa (E isso eu posso constatar, doía a vista ao vê-la de tão bonita que era). Mas não tinha só isso, a beleza constituía-se apenas num acessório dela, sua inteligência, seu estilo, enfim, o que mais poderia exigir Otelo da vida? Ela, é ela! Correu atrás, paparicou-a, conduziu-a nos seus delírios de amor, abriu seu coração e ela o seu. Eu participei deste momento de Otelo, ele não andava, flutuava ao lado dela. Esquecia-se dos que circulavam à sua órbita e das pessoas de que tanto desconfiava, sabia que o invejavam, mas ignorou estas mesquinharias e futricas, viveu-a. O mundo tornou-se uma ilusão, um devaneio do amor deles, uma construção lúdica de alegria e realidade juntas. Puro sonho! Pena que Otelo não tinha lido à época Schoppenhauer, pois poderia prever, diminuir as consequências, amansar o espírito, lutar desesperadamente, curtir mais… Schoppenhauer diz que a felicidade é uma gangorra, a um período de enorme felicidade sucederia um de desgraça e vice-versa, e que os homens deveriam se antecipar a este sofrimento supremo, apaziguando os ânimos. Otelo não estava preparado e a desgraça veio mesmo assim. De uma hora para outra, ela estava indo, para nunca mais voltar. E neste último momento de existência dela, ele esteve lá, sem chorar ou espernear, para que fosse feliz. E feliz ela foi. A desgraça de Otelo triplicou, nada dava certo, nenhuma mulher servia, os inimigos fizeram-se presentes e riram da sua desgraça. "Que se danem!", exaltava-se Otelo. O seu fim só não foi igual ao do personagem, pois sabia que o desafio maior é viver. Ficou, desconfiado. Não conseguia ajudá-lo, pensava que nínguem o poderia, só ele. E descrente Otelo prosseguiu até a profecia de Schoppenhaeur nos ensinar de novo. Otelo encontrou-a de novo. Impossível! Era outra, mas era ela! Será que ele está ficando louco ou eu estou ficando louco! Não demonstrando o entusiasmo da descoberta, Otelo achegou-se a esta velha nova mulher da qual conhecia muito bem. Eram idênticas de jeito e estilo, mas esta parecia ser mais completa. "Como pode? Será que ela irá me reconhecer? Será que estou bem?", divagou sem nexo Otelo. Para lhes contar a verdade, nem eu mesmo acreditei quando ele me mostrou depois do relato a mulher da qual…sei lá…agora eu nem sei também…Ela… elas são iguais. Eu fiquei louco, imaginem ele? Otelo foi devagar descobrir o seu jeito, a sua diferença, sua qualidade, seus defeitos. Adorou todos e percebeu que gostava dela diferentemente da 1ª, era uma nova paixão, uma nova mulher, mas com uma prerrogativa. Otelo sabia o que lhe fazia feliz e como fazê-la feliz, ele a conhecia mesmo não a conhecendo. Queria intensamente esta mulher, porém havia um pequeno problema, ela era casada. Para Otelo, se existia uma instituição que ele ainda respeitava, esta era o casamento. E pior, ele conhecia o marido. E o pior do pior, ele achava que o marido era gente boa. Um rolo! E o que eu achava? Ele queria a minha opinião. Tentar a felicidade incondicional, individual nos braços de uma mulher que irá, um dia, amar mais do que nunca ou simplesmente deixar que a felicidade fique somente com o marido legal, sem tentar nada, e sobreviver numa vida sem amor? Esta pergunta foi tão forte para mim que resolvi dividir com vocês esta responsabilidade. O que devo dizer a este meu amigo? E o que pensa esta mulher de Otelo? Mulher de Otelo, nos ajude, por favor! Fique com ele, entregue-se, dê um fora nele, diga algo! O homem está sofrendo a dor de querer e não poder, de achar que você é o complemento, o encaixe, a sua razão e a sua insanidade. Amigos me ajudem, este inferno de Dante está consumindo a minha razão…

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