Panistórias Lado B: Medalhas e a Soc. do Tadinho
Por Victor Hugo
Panistórias do Lado B: Medalhas e a Sociedade do "Tadinho"
Panistorias del Lado B: Medallas y la Sociedad del "Tadinho"
Pan-histories from B Side: Medals and the "Tadinho" Society
Faltam menos de 24 horas para viajarmos rumo ao PAN 2007 em busca do nosso ouro, nossa meta que é curtir estes Jogos em solo brasileiro. Aliás, já vejo Jardel se agitar em sua cadeira, preparar o violão para tocar em Ipanema alguma bossa nova. Jardel, sugiro a você que cante Ela é Carioca. Acho apropriado, talvez você consiga algo. O Alex já está agitado mandando e-mail para tudo quanto é lado: "Já ligaram para o hotel? Veja o negócio do carro! Comprou o ingresso? Cadê o Joãozinho?" A ansiedade já tomou conta de todos. O Brunão já vai sair mais cedo do trabalho (valeu, chefe!). O João sabe-se lá onde ele está. Não sabemos nada. Ele não tem celular. Deixamos recado e ele não retorna. Mas sabemos que ele estará no horário programado, depois, é lógico, da musculação no Cepê. Do meu lado, estou excitado. Acho que esta é a palavra correta. Já contatei todos os meus amigos cariocas. Estou com telefones e a animação afiada! Será que não esquecemos de nada? Com certeza, mas agora já foi...
O Lado B vai atrás da medalha de ouro da animação. Não vamos parar um minuto. O constrangimento será total. Não tenho dúvidas disto. Aliás, falando em medalha de ouro, estou vendo um euforia e uma ânsia generalizada em torno das medalhas de ouro do Brasil, de que vamos passar Cuba... Por outro lado, vejo a grande imprensa qualificada criticar as tevês, principalmente a Globo, por quererem ou se importarem com medalha, medalha e medalha... Estes dois lados têm interesses próprios e parciais em cima da questão, mas nenhum deles consegue enxergar o pano de fundo de toda a questão que envolve o PAN, a cultura das medalhas e, mais adiante, uma situação cultural da sociedade mais perversa que é a sociedade do "tadinho".
O interesse das tevês, principalmente da Globo, é vender o evento e justificar o investimento do patrocínio pesado e caro nos Jogos. Eles precisam de medalhas para aumentar a audiência e manter o interesse do povo no PAN. E isto não tem nada de patriotismo ou nacionalismo. O patriotismo ou o nacionalismo são usados como forma de chantagem emocional da grande massa para venderem mais produtos ou eventos. Na verdade, o nacionalismo sempre vendeu alguma idéia ou ideologia de interesses elitistas, mas que não vem ao caso discutir agora.
O interesse da imprensa qualificada em criticar a cultura das medalhas é tentar derrubar este discurso ou fazer com que o povo veja este jogo de interesses por trás do evento. Na verdade, quer se derrubar o ufanismo fácil das mídias televisivas. É um intuito aparentemente nobre, entretanto, não destituído de seus interesses próprios do grupo econômico representado e da pessoa que o escreve.
Mesmo assim, a crítica não consegue enxergar, muito menos o ufanismo não vai tão longe em sua miopia, que a cultura de medalhas é interessante, pois enfrenta uma outra questão latente na sociedade brasileira: a sociedade do "tadinho". Quando se busca medalhas, estipula-se metas e objetivos que mantêm o sentido da vida. Freud dizia que o problema da humanidade estava no sexo. Adler acreditava que estaria focado no complexo de inferioridade, dominação. E Victor Frankl pensava se inserir o problema na falta de sentido. Eu acredito que a vida para ter razão de ser, precisa de um sentido. A cultura da medalha cria um sentido e, mais do que isso, estabelece metas. A sociedade só cresce e "evolui" em patamares altos de qualidade. Por quê na Alemanha existem grandes pesquisadores? Pois foi lá que nasceram e desenvolveram teses das mais importantes, das cabeças mais brilhantes, tais como Einstein, Heiddegger, Hegel, Marx, Schoppenhauer, dentre outros muitos gênios. A cultura da medalha gera a cultura da excelência e do bem-estar social. É isso que os ufanistas nem os críticos conseguem enxergar. Mas quero que a cultura da medalha de ouro também seja estendida para a educação, saúde, política... Por quê não conseguimos, como sociedade, fazer esta ilação?
A cultura da medalha por este seu viéis de estabelecer metas de qualidade vai de encontro à sociedade do "tadinho". Infelizmente, este termo não tem tradução para nenhuma língua no mundo. "Tadinho" vem do termo coitado, que, por sua vez, significa coito decepado. E coito em homem... Vocês sabem o que é! Mas esta variação, "tadinho", no Brasil, aponta para o sujeito que não consegue na vida, que parece nada dar certo. Não por sorte, mas por incompetência mesmo ou incompreensão. O "tadinho" tem um lado perverso, pois tira o confronto, tergiversa a verdade, obnublece as competências, absolve o errado. Temos vários exemplos diários que convivemos com o "tadinho". O presidente não é incompetente, ele é "tadinho". É pobre e veio de camadas inferiores e está vivendo a opressão da elites: "tadinho"! O cara que faz trabalho braçal é mais valorizado que o intelectual, pois, "tadinho", fica muito cansado. Coitado do Rubinho que não consegue ganhar nenhuma corrida... Exemplos não faltam. O "tadinho" é sempre valorizado ou perdoado em detrimento daquele que conquistou, buscou, criou, venceu. Ele pelo menos tentou... A cultura da medalha enfrenta a sociedade do "tadinho" em suas raízes. Não absolve o errado, mas o reconhece e tende a superá-lo. E é isto que a grande imprensa não entende que está em jogo no PAN. A transformação de uma cultura do subdesenvolvimento, da omissão, da casa grande e senzala, da dominação para algo mais justo e digno.
Infelizmente, alguns integrantes do Lado B estão sofrendo da síndrome do "tadinho". Digo para vocês, depois do PAN, "tadinho" é na cadeia mermão! Lado B subverterá as sensações, distorcerá os sentimentos, impulsionará uma nova maneira de ver a vida. Nada será como antes depois de amanhã...
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