terça-feira, 11 de setembro de 2007

AMOR EM LIQUIDAÇÃO (LOVE FOR SALE)


Não acredito que exista um destino traçado a todos. Um destino fatalista que nos impõe um conformismo determinista e inescrutável do tipo, "Se Deus quer, que assim seja" ou "São os desígnios da vida, meu amigo". A vida segue aleatoriamente, sem destino, para algo que só veremos hoje. O cotidiano é o campo de batalha, onde se faz a luta para uma vida melhor e menos miserável. Uma briga incansável contra as injustiças, preconceitos raciais e sociais, com a falta de coerência e de… Amor! Amor, sim, por quê não? De que adianta ser um renomado pobretão ou um insípido executivo se se importar somente consigo mesmo? Ao verbo amar não cabe um reflexivo individual. Quando se ama, ama-se alguém, não a si mesmo. Porque se pressupõe que ao nascer e viver, sem querer morrer, que a pessoa ama a si mesmo. Daí, então, constituiría-se num non sense a frase "eu me amo", totalmente vazia de sentido. Ninguém sai por aí dizendo aos outros, "Eu me amo! Eu me amo!" Como também ninguém sai dizendo "Eu te amo" para todos. A palavra amor é tão forte e significativa que é difícil de dizê-la. Poucas pessoas no mundo puderam com alegria ouvi-la de modo sincero e inabalável de alguém. Eu mesmo já falei a palavra amor só umas cinqüenta vezes na minha vida inteira. Toda vez que tenho de falar, porque quero expressar sinceramente os meus sentimentos, gaguejo solenemente numa sofreguidão que eu mesmo não me aguento. A única coisa que me alivia é o fato de eu querer muito bem, que esqueço até de mim mesmo, a uma pessoa.
Nem todos pensam da mesma forma que eu. Têm muitos por aí que usam a palavra amor como se fosse carne de segunda no açougueiro. Pessoas sem coração e conteúdo que se utilizam de todos os artifícios para chegar a um objetivo, usando o pensamento "os fins justificam os meios" (Caros leitores, devo fazer uma pausa para dizer-lhes que esta frase não é e nunca foi dita por Maquiavel. Os seus críticos a utilizam para achincalhar a sua brilhante obra). Não há boa intenção quando alguém recita, "Eu te amo desde a primeira vez que a vi! Não consigo pensar em outra coisa. Fica comigo!" Além de ser um clichê errado, pois não é "eu te amo" e sim, "Fulana, eu lhe amo!", soa falso. Este é um jogo baixo e mesquinho que demonstra falta de criatividade ou uma cara-de-pau sem tamanho. Mas este é um tipo de ação que não se sustenta, é tão frágil quanto o argumento que lhe colocou numa posição de prestígio fugaz.
Digo isto porque, no final de ano, é uma época do ano em que as pessoas estão carentes e precisando de palavras de conforto e atenção. Parece que todos os problemas e desilusões se afloram nas festas de fim de ano. Nós, os solitários, devemos ser fortes para não sucumbirmos diante de perspectivas e falsas aparências do mundo burguês. Devemos refutar veementemente o falar fácil e um mundo de faz de conta. Sejamos pragmáticos, mas com muito amor verdadeiro para dar, todos os dias, pois só a prática coerente dele faz melhorar o nosso dia-a-dia.

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