terça-feira, 4 de setembro de 2007

Panistórias Lado B: O Valor da Amizade

Panistórias Lado B: O Valor da Amizade

Por Victor "Contramão" Hugo


A viagem ao PAN foi um sucesso. Graças a Deus, para quem acredita Nele, chegamos inteiros à São Paulo. Em virtude da péssima sinalização da cidade do Rio e dos morros insinuantes de Niterói, a locomoção do Lado B ficou dificultada em terras fluminenses. Devo confessar que tive a diligência necessária e conservadora daqueles que transportavam ouro por meio de terras inóspitas. Não temi em momento algum pela minha vida, que é por demais agraciada pela alegria dos que me acompanham e acompanhavam naquele momento. O que importava eram as vidas de amigos insubstituíveis, cuja presença traz um energia mais intensa à vida que levo.

Devo informar aos incautos que perderam a oportunidade de ir ao Rio, que estou a relatar sobre um fato ocorrido no dia 28.07.2007. O Lado B sai da casa de Vitinho, vulgo Marrrcosss, em Niterói, Praia do Icaraí, às 23h00min, rumo ao Rio. A chuva contínua descia em nossas cabeças, enxarcando nossos corpos ao sabor de um vento cortante. A passos curtos e encolhidos, vimo-nos dentro do carro a comentar as coisas da viagem e da vida. Devo dizer que, ao ligar o veículo, a diligência cuidadosa com todos de fora e de dentro foi tomada, praticamente zero de alcóol nas veias, visibilidade regular, confiança nos pé e nos dedos das mãos. O olhar atento do motorista cuidadoso enxergava somente a escuridão da noite fria e vazia de Niterói. A descontração do momento de relativa segurança deu lugar a palpitação convulsiva do coração. O arregalo e a sensação de fim foram encobertas pela visão acachapante e arrebatadora da freada claudicante de um ônibus de linha, banhados pela luz incadescente dos faróis, vindo diretamente à janela de quem escreve estas parcas linhas. Na aproximação do ônibus à porta de nosso carro só uma frase poderia libertar a angústia do momento: "Ai, caralho!"

Não sei porque me expressei desta forma. Não imagino a escolha do meu cérebro por estas palavras e o por quê de meu paradigma se direcionar para estas duas singelas palavras. Por quê será, neste momento crucial da vida de um homem, alguém iria escolher um "ai, caralho!" como últimas palavras? Eu fiquei me perguntando sobre isso no instante em que me expressei até o dia de hoje. Como estão a perceber, sobrevivemos e conseguimos passar por este e tantos momentos divertidos e interessantes. Mas esta pergunta ainda ficou encalacrada. Ela está fincada em minha mente que resolvi começar o relato de nossas andanças por terras fluminenses por esta história. História esta que poderia ser tudo menos triste. É lógico que fiquei preocupado na hora, até mesmo para a adrenalina abaixar em minha circulação. Pensei que tinha feito tudo certo e não tinha nada para errar... Reflexões que foram se esvaecendo no passar do tempo. Porém, ficou a interrogação: por quê o "ai, caralho!"?

Somente hoje de manhã cheguei a conclusão. A vida não vale nada pelo material que ela traz. O corpo e a matéria são coadjuvantes da existência humana. Viver para sustentar um corpo, não dignifica a existência nem ilumina os pensamentos. A vida pede a alma para ter sentido, substância. É da alma que o corpo sobrevive e não das coisas materiais. É da alegria, da harmonia e do prazer da amizade que se fez aquela viagem desde o seu primeiro minuto. Uma viagem com alma! Não houve sequer um minuto de desapego ou desunião. Não éramos indíviduos. Éramos um grupo! Foi, então, da alegria da alma daqueles 5 componentes (mais dos outros tantos em São Paulo e Rio), que freou o ônibus, vergonhoso que estava de tentar destruir a grande amizade que nos une, enquanto integrantes do Lado B. Percebi aí que o "ai, caralho!" externou as vozes daquelas 5 almas e fez parar o tempo. Eu acredito em Deus e sabem... Acho que Ele não queria que nossas aventuras fossem abreviadas pelo ocaso de uma fatalidade. Ela não tinha lugar naquele carro.

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