quarta-feira, 31 de outubro de 2007

NÃO SEJAMOS CONSUMIDOS PELAS TREVAS


Respostas ao que foi dito e feito no Assalto à Fatec Carapicuíba em 28.10.2007

Primeiramente, e acho que muito tem sido dito, em pura repetição a um discurso vigente hoje na sociedade: PRECISAMOS DE SEGURANÇA! Infelizmente, e vou discordar de todos que escreveram e-mails ou pensam desta maneira, não precisamos de segurança. Precisamos sim de EDUCAÇÃO! Somente a educação nos trará as condições de superação desta realidade tão desprovida de sentimentos.

O que os ladrões nos roubaram hoje não foram computadores e máquinas! Eles não queriam isto. Eles queriam desconstruir sonhos e esperanças. O dinheiro dos computadores, ou que eles valem, não são os R$ 400 mil divulgados por todos, mas sim 100 (cem) vezes este valor. Os computadores valem muito mais que o valor mercadológico pelo que eles podem proporcionar, construir, mostrar, elucidar e produzir, para aqueles que necessitam dele como instrumento de obtenção e de produção de conhecimento. É nisto que a minha revolta ou sentimento encrustrado de impotência me remete. Acho que nisto se reflete a dor de todos os fatecanos de Carapicuíba. É uma dor profunda, pois fere visceralmente a tudo aquilo que acreditamos, que fazemos, que estamos a buscar, a construir: uma sociedade, pessoas, uma região!

Aquele que reclama da falta de segurança ou fica preocupado com o material, com certeza não olhou para o lado e viu a dedicação perdida e esvaida que o Rubens e também por seu amigo Klaus, durante quase um ano, arquitetaram, com paixão ímpar, toda a infra-estrutura tecnológica de informática do prédio. De maneira alguma, esta pessoa prestou atenção na dedicação com que o Prof. Chíxaro, Vera e a Maria Cristina doaram suas vidas profissionais (e por quê não pessoais?) a esta Instituição. Acredito por certo que esta pessoa não se ateve à fé que o Prof. Rogério conduz o seu magistério. Nem devo dizer da entrega da Fernandina, da Anna Cristina, do Dewar, do Limadji, do Faricelli, da Vera, do Oscar, da Irene, do Walter, da Claudia, enfim, de todo o corpo docente, de todos funcionários, Bete, Haida, Rose, Nilza, Fernanda, Wilma, entre outros, e daqueles que acreditam neste projeto.

Mas a Segurança, repetida diuturnamente pelos meios de comunicações, não é a que se faz com armas e repressão. Não acredito na repressão como forma de pacificação social. Só há pacificação social com EDUCAÇÃO! Não sejamos confundidos pelos discursos ou por um sentimento de vingança que só dá vantagem ao agressor, que, a partir deste ponto de vista, sempre estará esperando o contra-ataque. Iremos perder neste tipo de batalha! Vamos lutar no terreno que podemos sair vencedores, ou seja, na formação educacional de profissionais diferenciados e qualificados, não só para o mercado de trabalho, mas para a vida!

Não deixemos os ladrões, orientados por uma alma nefasta que os conduziu, trazerem as trevas para a Fatec Carapicuíba. Eles querem destruir todos os sonhos que foram depositados neste grande empreendimento pelos professores, funcionários, alunos e povo de Carapicuíba! Vamos iluminar os nossos pensamentos, para que busquemos nas luzes do conhecimento, da razão e do espírito, os meios para sairmos desta tristeza incomensurável que nos assola. Realizaremos sim, fatecanos, a reconstrução das coisas materiais que nos tomaram. Mas também devemos avisar aos usurpadores que eles não roubaram, como queriam, os nossos sonhos e o nosso futuro. Construiremos, neste terreno, as chamas que iluminarão e transformarão a toda nossa região carente e historicamente relegada por aqueles que comandam o Estado e o país!

Só poderemos alcançar estes objetivos, metas e sonhos, neste momento de crise, a partir não da união, mas sim do COMPROMETIMENTO de todos com este grande projeto chamado FATEC CARAPICUÍBA. Muitos no meio do caminho se perderam. Esqueceram que a crítica vazia e nula não constrói instituições e realizações. A crítica destituída de fundamento, na sua faceta fascista, apenas desconstrói e não coloca nada no lugar, somente o niilismo. Sonho todos os dias que os meus alunos se imbuíssem um pouco mais neste ideais defendidos por mim, colegas e funcionários da FATEC Carapicuíba, que podem ser até utópicos e ingênuos, mas que fazem com que eu acorde todos os dias para trabalhar e para dar aulas. Acredito que para eles também.

Vamos encher de vida a FATEC para aqueles que só quiseram nos trazer às trevas!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

PAULO LEMINSKI

Neste dia de chuva, furto do orkut do Brunão a minha inspiração do dia para alguém muito especial e charmosa...

PAULO LEMINSKI

Apagar-me


Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ENCONTROS DE 3º GRAU


Ultimamente, tenho me deparado com algumas situações que até pouco tempo não tinha idéia que iria
passar. Eventos, coquetéis, prêmios, entregas... Não que seja isto para mim, pensar isto é, por enquanto,
uma grande heresia. Mas porque esta nova situação de estar efetivamente dentro da OAB/SP, traz uma
certa gama de atividades relacionadas que são interessantes. Devo ser sincero: é bom estar nestes
eventos, encontrar pessoas, falar sobre projetos e... comer e beber do bom e o do melhor!
Fui convocado para mais um destes eventos nesta quarta-feira: entrega de prêmio da Fundação Bunge para
os melhores, que ocorreu na Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes. Pensei que um prêmio, por mais
chato que seja, na Sala São Paulo fica muito menos... Aí fui com a minha sócia para saber sobre o que se
tratava e, se desse, fazer alguns contatos interessantes. Já fui meio cabreiro, pois perdi a cantina da mãe
do Alex, que parecia uma boa opção de programa para aquela noite. Mas tenho que fazer estes trabalhos.
"Vamos, não tenho mais como voltar, até porque já confirmei a minha ida!", disse consolando a minha
vontade de ir à cantina.
Para quem conhece a Sala São Paulo, como eu, já sabia o que ia encontrar: um lugar pomposo e cheio de
glamour. Para minha sócia tudo era novidade. Guardas, recepcionistas, tratamento VIP. Tapete azul? Deve
ser a nova moda! Mais sorrisos e bocas, convite à mão... "Como o nome não está na lista?", bradou
assustada a minha sócia. A recepcionista de nome Silvia, com muita tranquilidade, vendo a carta de
representação da OAB/SP em nome do presidente, já ajeitou tudo e colocou-nos rapidamente dentro do
recinto. "Nossa, aquele não é o fulano e aquele não é o ciclano?", disse minha sócia. Eu falei: "É...". Mas
estava com vontade de ir ao banheiro e ela também e nos direcionamos ao local, mesmo atrasados para a
cerimônia. Quando, não mais que de repente, na virada do grande hall de entrada, ao mirar a arquitetura
neoclássica da estação, vejo quem? Ele, não acredito!?. Senhoras e senhores, ele, Mário Portuga! Eu não
acreditei! Até perdi a vontade de ir ao banheiro. Este é o Mário! Para quem não o conhece, Mário, é um
grande amigo e fundador do Lado B, nos últimos tempos sumiu de forma impressionante, até, pelo que
fiquei sabendo, da namorada! E quem estava do lado dele a Mariane, namorada do mesmo! Mas, peraí, o
Mário não morreu? Eu lembro de tê-lo enterrado, feito o discurso e o despacho de despedida... Mas ele
parece tão vivo, cheio de... barba... e terno!!! Meu Deus, este é o mundo paralelo! Mário Portuga de terno?
Será que é ele mesmo? Apertei o seu pochete e senti... Carne com gordura! É vida! Sim! É o Mário! Ele está
vivo! Quase chorei de emoção, mas tinha de manter a compostura. Estava no meio da Sala São Paulo! Mais
uma coisa me confirmou que aquele é o Mário. "Hihi, Victão, não acredito que é você! Gordo, hein! Nem
parece... está que nem gente!hehehe!", constrangedor como sempre. É o Mário! Cumprimentei a Mariane e
disse que precisava urgente ir ao banheiro. Entretanto, o que queria fazer era ligar: "Alex, qual é a chance
de vir a trabalho na Sala São Paulo e encontrar o Mário?", ele sorrindo disse: "Menos 15%!hehehehe!". Aí
contei esta história e prometi relato, o que estou fazendo agora...
Depois do banheiro, encontrei a minha sócia e fomos ver a entrega do prêmio. Muito bonito e significativo!
Falou aquele grande amigo da FFLCH, Jacques Marcovitch, vocês se lembram dele? Ex-reitor da USP que
fugia das reuniões, até o Charles foi pedir dinheiro para ele...hahahah! Então, ele estava ao lado do grande
Celso Lafer, que não deixou de citar Bobbio, com propriedade, em seu discurso. Mas a grande nota da noite
foi de Niede Guidón, grande arqueóloga brasileira, que em sua fala disse que a vida toda estudou em escola
pública, tanto no Brasil quanto na França, e que a sua obrigação era de devolver à toda sociedade, o que
ganhou com o investimento destes povos em seu trabalho.
Depois do grande show dos Meninos de Heliópolis, em que percebi que investir na comunidade gera retorno
de qualidade e de muito boa música, veio o comentário do Mário: "É, Victão, quantos negros você viu lá?",
disse para ele que todos eram, muito mais negros que os suecos e menos que os da Nigéria. Aproveito o
momento para beliscar o Mário e saber se era mesmo ele. Tiro as fotos para confirmar o fato (advogado é
fogo mesmo!). Comemos ravióli e bebemos champagne, até rolou uma swingueira do vinho na Sala São
Paulo. Swingueira do vinho se espalhando pelas classes mais abastadas e até em outro mundo, né Mário?
Neste momento, um pouco mais alegre, eu soltei as minhas ao falar de trabalho: "Foi a Mariane que perdeu
o emprego em Itu?". O Mário com cara de "É...!" olhou para mim e confirmou: "Eu tenho outra namorada?".
Aí eu disse: "É!"...hahahaha
Mas antes de encerrar o relato eu sou obrigado a fazer uma redenção aberta e clara de Mariane, a
namorada do Mário. Ela foi ótima anfitriã! Para os que não sabem, ela trabalha na Fundação Bunge. Ela me
disse: "Victor, o pessoal lá (Lado B) acham que eu sou uma chata!"... Depois de toda a noite me divertindo
com todos, retruquei a ela: "Não é você, não! É o Mário que não cuida da sua imagem direito!". Fui embora
feliz com a noite e por também mudar muito dos meus conceitos... Sobre o Mário, é um ótimo amigo... Uma
pena ele ter se esvaido para terras jardelinas...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

EU E A MOSCA


Mas um dia se passa e o desespero da vida insone busca meios para submergir à realidade. Difícil levantar os olhos e olhar o horizonte. O que fazer senão respirar e sentir o ar a volta? Qual é o sentido de tudo isto? Há necessidade mesmo de se sustentar nesta penúria?
Não há o que fazer... Olhar o horizonte que nos é dado pelos cachorros de rua e seguir a um futuro tempo-espaço incerto e obscuro, mesmo à luz do dia. Deve-se alcançar o carro na labuta diária insana para ser vilipendiado mais uma vez. Por quê não ignoro todos os sinais de inteligência e vivo na ignorância? Seria um alívio imediato... Como se sacrificar, neste momento, não vai aliviar a angústia de um futuro razoável, andar como os andarilhos de Vidas Secas é medida de coerência e de resistência. Resistir esta é a palavra sinônimo de sobrevivência deste mundo inóspito. Será que não sou eu o ser inóspito ou indesejado? Não interessa. Seguir indiferentemente ao que se tem em volta...pelo menos tentar! Mas o que esta mosca está fazendo no pára-brisa do meu carro! Sai daí, o coisa! Vá para algum lugar, santo Deus! Devo esquecê-la para seguir a minha vida de automâto... É preciso! Devo pensar nas coisas do trabalho. Trabalho que nada! Emprego! Cabide! Mais um pedaço da minha vida de autômato. Pior que não tem nenhum personagem engraçado ou mulher gostosa para se admirar... Mas o que é quer esta mosca? Este carro já está em movimento faz 10 minutos e ela continua na mesma posição, no mesmo lugar. Oh, mosca que fica se contorcendo se mexendo e não pára um instante sequer! Vou fazer zigue-zague com o carro para ver se ela vai embora! Como assim? Além de não sair fica zombando de mim! Ela fica espichando suas asinhas e se abrindo toda. Será que está me desafiando pelo espaço? Que idéia maluca que estou tendo. É só uma mosca! Que vida infeliz achar que uma mosca irá me desafiar. Nem o meu chefe me desafia, porque uma mosca o faria. Nossa, que estranho! Pareço um personagem do Kafka... Será que a minha vida é um rascunho, algo rastejante para me debater com uma mosca?
Dou 3 porradas no vidro para fazer com que a mosca saia. Ela age com desdém e espreguiça novamente as asas, se contorce e esfrega freneticamente.
Vou ignorá-la... Mas ela não sai! Não é que ela é graciosa e formosa no seu jeito de esfregar. Por quê ela faz isto? Qual é o motivo? Limpeza? Mas é uma varejeira! Varejeiras se limpam? Duvido que seja isto. Tem haver com alguma prática sexual das moscas por mim desconhecida? Pode ser que sim. Se for isto, chama muito atenção... Caminhão saia já da minha frente! Mas ela não quer sair. Talvez não saiba ela que não terá comida se ficar por aí. Ninguém virá para lhe servir ou orientar. Nem eu, pois se pudesse lhe esmagaria em cima do pára-brisa. É a lei da sobrevivência! Mas que sobrevivência? Uma mosca não me mataria! Coisas de uma mente doentia, fora dos padrões de normalidade. Será que a minha vizinha vai querer-me um dia?
Se pensarmos bem, estes minutos que esta mosca ficou comigo, raciocinando no tempo de vida de uma mosca em comparação com nós humanos, isto é uma eternidade. Pelo menos uns 10 anos de sua vida humana em mosca, foram passados comigo. Acho que ela gostou de mim... ou do meu carro ou do vento? Não interessa! O importante é que ela está aqui...
Depois de tanto tempo, teve que ir mesmo? Que coisa estranha pensar isto... É só uma mosca! Ainda bem que se foi! Vou ter que limpar o meu carro. E depois? A falta de sentido... estacionar, trabalhar, ser mais uma vez escravo da exclusão de mim mesmo...